sábado, 21 de junho de 2008

Sex Appeal do Inorgânico(Matutino)

Capítulo 1: Sentidos e coisas

O autor define o Sex Appeal do Inorgânico com a sensação extrema da sexualidade, que surge da união filosofia com a sexualidade, que dá origem a algo extraordinário.

Capítulo 2: Altiplanos do sexo

A sexualidade neutra nada mais é do que a suspensão do sentir. É uma experiência descentrada e livre de intenção. Normalmente a excitação sexual se dá em busca do orgasmo. Essa experiência faz uma curva, que parte do zero e sobe lentamente, tem um momento de ápice rápido e decai mais rápido ainda.
O autor defende que o primeiro passo para se alcançar a sexualidade neutra é se libertar da orgasmomania e se abrir para uma experiência suspensa e artificial da coisa que sente. Nela sexo, aparência, idade, raça não têm importância. Pois, a sexualidade é sentida por seres igualmente sencientes.

Capítulo 3: Deus, animal, coisa

O homem é constantemente comparado com Deus e animal. É elevado na condição de Deus e rebaixado na condição de animal e nesse meio termo encontra a condição de coisa. Algo que não está nem acima nem abaixo de nós, que vem de encontro com o antidivino e o antianimal. A coisa é a complementaridade de Deus com animal.
Nessa condição de coisa, em que não é nem Deus nem animal, é apenas um ser senciente. E para esse ser senciente o mínimo perceptível é o máximo perceptível.

Capítulo 4: Descartes e a coisa que sente

Para Descartes a coisa que pensa, a mente, é diferente da coisa que se move, a máquina. Ele acredita que a coisa pensante prima sobre as outras pois, possui consciência da sua própria existência e tem como ente perfeito Deus, é uma substância espiritual distante do corpo. Já a coisa que se move explica o funcionamento dos corpos vivos, tanto de homens quanto de animais, e possui características essencialmente dinâmicas.
O sentir implica a união entre corpo e espírito, entre mente e máquina. Dentro desse conceito podemos concluir que uma coisa pensante pode não ter corpo mas, para ser senciente necessita obrigatoriamente de um corpo.
Por fim, o sentir não é separável do pensar e do querer. É essa união que constitui uma subjetividade que pensa pensante.

Capítulo 5: Tornar-se veste estranha

Nesse capítulo o autor defende que o corpo do qual a sexualidade neutra possui experiência é a roupa, coisa, não a máquina.
Ele afirma que o império da sexualidade neutra, sem orgasmo, está fortemente ligado ao poder de excitação da filosofia, pois esse possui igual poder de inibição.
Na sexualidade neutra o excesso filosófico e o excesso sexual se nutrem reciprocamente.

Capítulo 6: Toxicomania exemplares

O sentir da sexualidade neutra se assemelha ao sentir neutro provocado pelas drogas. O autor compara a dependência física de drogas com a dependência criada pelo ato de filosofar, que no mundo dos excessos é essencial e perturbador. Essa necessidade não pode nunca ser satisfeita, como a necessidade de drogas, pois é infinita.
Mas é no encontro entre filosofia e sexualidade que se cria um efeito semelhante às das drogas. Cria-se a dependência de algo físico dentro de um sentir radical e extremo.

Capítulo 7: Kant e o cônjuge como coisa

Kant defende que o homem não deve possuir seu próprio corpo pois não tem domínio de si, não se pertence e tampouco é possuidor das suas faculdades sexuais. Seu dono é aquele que se entrega a ele, que o torna proprietário das suas faculdades sexuais. É uma troca. A liberdade, a autonomia e a independência encontram seu limite na sexualidade.
Para Kant considerar-se uma coisa que sente é uma humilhação que só pode ser superada com igual entrega. Ele “reconhece plenamente o caráter reificante da sexualidade, sua pulsão para dar e pedir o poder absoluto” [1].

Capítulo 8: Sadismo e o sex appeal do inorgânico

O sadismo possui um laço estreito com o poder. O sádico é considerado “um sujeito forte, autônomo, independente, senhor de si mesmo, que se afirma e triunfa numa prática de imensa negação e destruição”.[2]
O autor defende que só é possível desfrutar do sex appeal do inorgânico se o parceiro oferece o seu corpo completamente, disponibiliza-o para tudo que um sentir impessoal exige.
Na sexualidade neutra não existe o querer particular. E por esse motivo é incompatível com a mercantilização do sexo, pois a coisa que sente não é mercadoria.
E nessa busca infinita de sensações novas se torna perceptível a incapacidade da sexualidade de alcançar o próprio excesso sozinha. Não se diz “eu sinto” ou “você sente”. Diz-se “Sente-se”, de forma impessoal.

Capítulo 9: Cybersex filosófico

A sexualidade neutra permite que o homem transponha para uma virtualidade diferente, uma outra dimensão. É considerada pós-humana, uma vez que tem como ponto de partida o homem, mas que se impulsiona para o artificial. Ela faz coincidir o máximo de virtualidade com o máximo de efetividade. E tende sempre para o excesso.
Pode ser considerada uma sexualidade virtual, mas não é simulação, é o ingresso em outra dimensão.
Os apologistas vêem a realidade virtual como uma liberação das angústias e restrições da realidade. Como uma fuga culpada. Quando de fato a virtualidade reduz a precariedade da realidade, pois coisas virtuais estão constantemente a nossa disposição. Ela não é precária e efêmera como a sexualidade natural.
Há dois modos de sentir o corpo como coisa: separando os órgãos do corpo ou o corpo sem órgãos. O primeiro modo é a desexualização dos órgãos sexuais e a sexualização de outros órgãos. Dessa forma os órgãos são liberados da sua função do resto do corpo e toda a sexualidade é centralizada. E ele se torna apenas um ser senciente, com sensibilidade autônoma. No segundo modo, o corpo sem órgãos, os corpos se tornam iguais, sem diferenças, ambos são uma coisa que sente, de forma neutra e impessoal.
O cyborg filosófico-sexual surge da relação de interface entre duas quase coisas, do homem quase Deus e do homem quase animal.

Capítulo 11: Masoquismo e sex appeal do inorgânico

“O que aproxima o masoquismo da sexualidade neutra é a vontade de dar-se de modo absoluto como uma coisa que sente. (...) Ambos desejam ligar o parceiro a algo duradouro e estável por meu de procedimentos e dispositivos paradoxais”. [3]
A estratégia do masoquista é a do desprazer. Ele se coloca depois do desastre, antecipa aquilo que teme pensando neutralizá-lo.
O masoquismo se assemelha ao sex appeal do inorgânico por manter a excitação sexual à suspensão do ato. Não precipita repentinamente e conclui em uma experiência insatisfeita. A vontade é de fazê-la durar para sempre.

Capítulo 12: Corpos como roupa

O look se constitui nos passos que conduzem o homem a quase coisa. Como já foi dito anteriormente, o corpo que sente na sexualidade neutra é a roupa, não a máquina. E a idéia de ser roupa causa excitação, desperta a sensibilidade neutra, a sexualidade impessoal, sem sujeito, sem alma e sem corpo vital.

Capítulo 13: Hegel e a coisa como “não isso”

O corpo enquanto coisa se anula como corpo. Ele “supera-se num não corpo e transita numa universalidade vazia e externa, da qual só é relevante o fato de que esta, aqui/agora, se oferece ao desfrute”.[4]
O sex appeal do inorgânico está além do gosto e desgosto. A sua excitação vem de um infinito indicar e desmentir.
Quando se diz “não isso” a única coisa que importa é a abstrata universalidade da coisa senciente, e não a vivacidade da sua alma e nem a beleza de seu corpo.

Capítulo 14: Fetichismo e sex appeal do inorgânico

“O fetichismo é a categoria sob qual a cultura moderna pensou a sexualidade neutra e impessoal da coisa que sente”[5].
O seu ponto de vista é caracterizado pela arbitrariedade. Ele não é símbolo e nem signo. Vale unicamente por si mesmo em sua independência e autonomia.
Outra característica é a exterioridade, ligada ao culto servil, que é executado por motivos que vão além da obrigatoriedade e do dever moral.
O fetiche é encontrado na economia, por Marx. É no seu poder abstrato de troca que caracteriza o fetiche. O fetiche possui uma arbitrariedade universal e uma exterioridade autônoma. O fetiche monetário é a ilusão que oculta a realidade da produção do valor. Os juros são considerados a forma pura do fetiche, pois elimina o valor de uso e o aspecto sensível da mercadoria.
Na psicologia o fetiche é analisado por Freud. Pela diferença de sexos é perceptível que falta algo à mulher. O fetichismo empreste à ela um falo impessoal, que da mesma forma que a moeda, é caracterizado pela arbitrariedade universal e pela exterioridade autônoma. E esse falo excita pois constitui um apêndice não essencial que monopoliza todo o sentir, que mantém em si mesmo.

Parte II - Capítulo 15 ao 27
Capítulo 15: Sonoridades hard core
Como já foi dito nos capítulos anteriores, a excitação neutra das drogas, o futurismo da ficção científica e a própria exterioridade radical do look (moda) são experiências que sugerem o sentir impessoal.
Essa mesma experiência também pode ser comparada a música. Para compreender o que o autor define com música, é preciso deixar de lado a questão sentimental (subjetiva/orgânica) e se prender ao som (inorgânico). A música é mais que uma técnica; é um dado, uma coisa.
O rock, mesmo sendo um movimento difuso, é unido por um tipo de força de coesão (magnetismo), que caracteriza o inorgânico. Nesse momento, o autor explica as diferenças entre inorgânico e orgânico: “só o inorgânico é sexy, só inorgânico é filosófico e essencialmente musical” [6].
Ouvir música e apreciar algum som relaciona-se com uma experiência externa, pós-humana (hard core, música eletrônica). A música tem uma disponibilidade para o exterior e para o neutro.
Capítulo 16: Hegel e a coisa como “também”
Para Schelling, o mundo inorgânico é mantido pela coesão magnética. Já para Hegel, o inorgânico se caracteriza por uma porosidade essencial, “uma espécie de vacuidade radical que se oferece para uma penetração infinita” [7].
Assim, o Sex Appeal do Inorgânico “emerge da penetração muda dos elementos” [8], já que o poroso é uma multiplicidade de aberturas: aquilo que penetra também é penetrado, sem qualquer anulação, limite e pertencimento, por isso a coisa como “também”, sempre é possível ser mais, penetrar mais, tudo tende ao infinito de possibilidades.
O que garante a consistência ao inorgânico é a idéia de porosidade, a união se dá por conexão, nós, junções (relação com o universo digital, que a Internet possibilita).
Capítulo 17: Vampirismo e sex appeal do inorgânico
A principal característica do vampiro é a porosidade. O estado de nem vida, nem morte, garante o sex appeal do inorgânico ao vampirismo. É um tipo de experiência que vai além do estado normal de consciência e além do medo e da dor, existe um tipo de letargia, catalepsia, uma coisa indeterminável e porosa.
O fascínio pelo vampirismo está estritamente ligado ao lado sexual. O vampiro não se iguala a nenhum outro mortal, pois possui um corpo sem qualidade, um corpo-coisa.
Capítulo 18: Paisagens plásticas
A experiência contemporânea do espaço se configura sobre um modelo dinâmico que lança o sujeito para fora de si no território da sexualidade neutra. Novamente, para Schelling, a arquitetura é uma arte inorgânica, “uma espécie de música enrijecida” [9] e existe antes da construção (atividade humana que edifica).
A relação arquitetura x sexualidade se dá a partir da idéia de que toda expressão artística se manifesta como equivalente a algum instinto sexual. Justamente a construção “dessexualiza” o arquitetônico, pois edifica, prende a experiência a obra, eliminando o fluxo. A arquitetura é uma deriva, uma constante mudança no nosso quadro perceptivo, isso garante um tipo de porosidade já mencionada no capítulo anterior.
Ainda no mesmo capítulo, o autor critica o modelo organicista, dizendo que o corpo já é arquitetura. O design computadorizado exemplifica esse fenômeno, pois radicaliza a experiência arquitetônica contemporânea. O cyberspace é o abandono de qualquer condição prévia de trânsito e espaço. É a inorganicidade, não a desmaterialização, é a como se a paisagem se liquefizesse e adquirisse uma capacidade autônoma de pulsar. Cyberspace é a arquitetura líquida.
Capítulo 19: Hegel e a coisa como “toda de uma forma só”
Nesse capítulo o autor elucida o fato da coisa não possuir uma parte interna (subjetiva, orgânica) e uma parte externa. É como se ela não tivesse caroço nem casca, ela é “toda de uma forma só”. Isso exclui qualquer referência a uma interioridade secreta, característica do vivente (homem), isso é um fator limitante para a sexualidade neutra. O acesso ao sex appeal do inorgânico se dá através da eliminação de todos os afetos subjetivos.
Capítulo 20: Desejo e sex appeal do inorgânico
A sexualidade neutra e impessoal está totalmente separada do desejo. Este se relaciona com as afeições subjetivas, é uma vontade orgânica. A suspensão do desejar algo privilegia a presença em relação à ausência, a disponibilidade em relação à falta. A idéia mais comum de desejo se relaciona com a contemplação daquilo que não se possui (platônico). No sex appeal do inorgânico, nós estamos contentes com aquilo que temos (transcende o desejo, que está ligado a carne).
Capítulo 21: Instalações transbordantes
Nesse capítulo, o autor discute a relação da sexualidade neutra e obras de artes, fotografia e quadrinhos, afirmando que essas expressões ainda estão no meio do caminho orgânico e inorgânico. Não realizam completamente a dissolução do orgânico. A coleção ambiciona a organicidade que caracteriza a obra de arte; a fotografia nutre a pretensão de conservar a experiência vivida e as histórias em quadrinhos são ainda dependentes da linguagem narrativa e de sua intenção de contar uma vivência.
Capítulo 22: Heidegger e a coisa como fidelidade
Heidegger busca o ser não no espírito, nem na vida, mas justamente na coisa. Ele a coloca no centro de seu questionar, faz dela o “argumento de uma mediação suspensa, independente do âmbito da utilizabilidade e da objetividade”[10]. Ainda, o autor discute a questão negativa da “coisalidade da coisa”: sempre buscamos entender uma coisa com o objeto de uma representação, mas o pensar na coisa é assim um sentir a coisa.
Capítulo 23: Divisão e sex appeal do inorgânico
Nesse capítulo o autor discorre sobre a dualidade proveniente da separação entre os sexos masculinos e femininos. Fala sobre algumas correntes:
- Feminino e masculino seriam dois opostos que tendem a se complementar, criando assim uma unidade superior à divisão;
- Feminino e masculino são dois arquétipos presentes no interior de uma mesma pessoa; (androgenia = vitória da organicidade sobre a sexualidade) (hermafroditismo = aproximação possível da característica de ambos os sexos, neutralização);
- Teoria dualista pela psicanálise: a bipartição fêmea e macho é pensada como assimétrica;
O sex appeal do inorgânico se coloca num terreno onde a sexualidade provem de infinitos sexos, não somente de dois, como seria o mais natural se pensar. No interior de cada indivíduo existem dois sexos, ainda divisíveis em outros dois e assim sucessivamente.
Capítulo 24: Metaescrituras inclusivas
Outra experiência aproximada do sentir inorgânico é a literatura vista como uma metaescritura, isso se relaciona com o fato das diversas possibilidades que o texto nos permite. Isso é passível de compreensão quando a palavra é tratada como coisa que sente, a qual tem a sua autonomia não só com o que significa, mas quanto ao conjunto de opiniões, de intenções, crenças que mantém unido ao sujeito que compõe.
Capítulo 25: Wittgenstein e o sentir de “esta coisa”
Os estudos de Wittgenstein sugerem um tipo de experiência que se aproxima muito do sex appeal do inorgânico, esta consiste em ver uma entidade que permanece mutável, ora como uma coisa, ora como outra (ambigüidade). É como se o familiar fosse interpretado de modo diferente do corriqueiro.
Assim, o autor atribui a percepção de alguma coisa como alguma coisa, e não sendo nula, de esta coisa como uma entidade que surpreende, cintila e brilha de forma diferente (salta aos nossos olhos). A sexualidade neutra nos fornece a realidade como efeito especial.
Capítulo 26: Prazer e sex appeal do inorgânico
Perniola afirma que o prazer é o argumento mais triste do livro, talvez, por isso tenha ficado para o penúltimo capítulo. O autor, ao falar sobre prazer, explica algumas visões de antigos filósofos sobre o tema.
A idéia de prazer sugere um fechamento, exclui qualquer tipo de penetração. Platão faz a relação prazer e sexualidade através do belo, isso talvez dê um caráter menos hedonista ao ato, pois beleza é algo que se pode compartilhar com os outros. Ainda na linha do mesmo pensador temos que o verdadeiro prazer é estável (não se prende ao desejo, a necessidade, ao preenchimento) e é puro (não existe novamente a necessidade e com isso a dor).
Já para Aristóteles, o prazer é visto como uma atividade (é completo e adequado a si mesmo) e em sua opinião, prazer e vida são inseparáveis: sem atividade não existe prazer e sem prazer não existe atividade. Para ele, comer, beber, sexualidade, são prazeres legítimos, porque expulsam a dor e satisfazem nossas necessidades.
Por fim, Epicuro afirma que o prazer em movimento não é verdadeiro, apenas cessação da dor e satisfação de uma necessidade. Para ele o verdadeiro prazer se relaciona com a quietude, ausência de dor, medo e perturbações.

Capítulo 27: Performances perversas
O sex appeal do inorgânico é totalmente o contrário do prazer, mas sim, um esforço, um exercício, uma empresa, uma performance. Quando se passa no território neutro e impessoal da coisa senciente, a excelência adquire um outro significado: é superação dos seus próprios limites e não dos outros. Esses limites são dois: corpo e espírito.
Para penetrar-se no mundo inorgânico é preciso é preciso estar em descompasso com o normal, a maioria (um handicap). A performance da coisa não é normal, é perversa, pois necessita da extração de estímulos inadequados, que para nós são cotidianos (sons, espaços, objetos, conceitos, números).
Na verdade, a própria sociedade já se tornou inorgânica, isto é, muito mais compreensível através dos efeitos perversos das performances, do que através das ações dos sujeitos que a programam e projetam.


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