sexta-feira, 20 de junho de 2008

A Coisa( Contribuição de Eduardo Loureiro)

Há uma em diminuição do distanciamento tanto no tempo quanto no espaço devido as novas tecnologias de transporte e comunicação, culminando com a televisão que é o cúmulo da supressão de qualquer distanciamento.
Entretanto o fim do distanciamento não significa proximidade, pois proximidade não significa pouca distância, assim como distância não é um grande afastamento. O que do ponto de vista espacial está muito longe pode estar bem próximo e vice-versa.
Mas então o que é a proximidade e como se pode experimentar sua presença? A proximidade não é algo que possa se encontrar, o que se consegue é achar na proximidade o que chamamos de coisa. Essa coisa há muito tempo é instrumento do homem e objeto de reflexão dele mas no entanto nunca se pensou a coisa, como coisa ou como o modo de ser coisa.
Tome como exemplo uma jarra, ela é um receptáculo, apesar de suas paredes fundo e asa a jarra como receptáculo subsiste em si e por si mesma, ela existe com ou sem a representação de um sujeito. Entretanto a jarra só subsiste como receptáculo na medida em que foi conduzida a estar em si mesma, ou seja ela só existe pela pro-dução de um oleiro que molda a argila, porém não é na pro-dução que ela se torna coisa, já que a pro-dução tem como meta a subsistência a objetividade e nenhum desses caminhos leva a coisa a ser coisa.
A jarra é uma coisa como receptáculo, no entanto o q se pro-duz é o recipiente do receptáculo, entretanto ser pro-duzido pelo oleiro não transforma o recipiente em jarra, esse teve de ser produzido para a criação de um receptáculo que é a jarra. A jarra livre de seu processo de produção se concentra e se recolhe em receber
Assim Heidegger descorda de Platão, Aristóteles e todos os outros pensadores que os sucederam, já que pensaram a vigência de algo apenas pelo perfil de seu sere não na presença essencial da coisa que se constitui num duplo produzir, de um lado produzi no sentido de provir, de ser por si mesmo e de outro no sentido de inserir o pro-duzido num espaço de descobrimento já vigente. Para Heidegger toda apresentação de um vigente como produto ou objeto, nunca chega até à coisa como coisa. No caso da jarra, o fato de ela ser um receptáculo, assim ao depositar um liquido na jarra ele escorre pelas paredes e é detido por elas e pelo fundo, no entanto o que abriga o líquido é o receptáculo e não as paredes e o fundo e assim esse é a coisa em si.
Outro ponto levantado pelo autor é se a jarra está realmente vazia antes do liquido ser depositado lá. Para a ciência a resposta é um claro não ela está preenchida de ar, no entanto para o alemão a ciência explica o mundo apenas segundo seu próprio paradigma e para entendermos a coisa como coisa é necessário que façamos dela a medida e o parâmetro, assim o vazio absoluto da ciência não é o mesmo vazio da jarra por tanto não é valido para a jarra como coisa.
Mas como o vazio da jarra recebe? Ele recebe acolhendo e retendo e é da união dos dois que a jarra se torna jarra, assim como da forma que ela doa seu conteúdo e somente ela o faz. É nessa singularidade, coisificação, que ela se diferencia de um martelo, este não é capaz de acolher reter e doar um líquido sendo assim é diferente da jarra.
Na aguá doada persistem os vestígios da fonte, na fonte persistem as pedras e o solo que recebem a chuva e o orvalho do céu, assim como na doação do vinho perduram os componentes da agua e das frutas e assim por diante , portanto na presença da jarra persistem o céu e a terra. A doação é bebida para os mortais ou também material para uma oferenda dessa maneira a doação se torna líquido para os imortais. Assim da doação da vaza vivem tanto os mortais quanto os imortais cada um a sua maneira, na doação da vaza também convivem o céu e a terra lá presentes. Os quatro pertencem, a partir desse encontro tornam-se um conjunto ou ainda eles se conjugam numa única quadra reunião.
A doação da vaza é completa a partir do momento que ela deixa morar em si terra, céu, mortais e imortais, assim a partir de sua simplicidade eles recomendam e se confiam reciprocamente uns aos outros e descobrem o que são. “A doação da vaza deixa morar, na sua simplicidade, a quadratura dos quatro. Ora, na doação da vaza, vive e vigora a jarra como jarra.” Assim a jarra se torna coisa, ou seja: A coisa coisifica a partir do momento que reúne e conjuga, numa unidade, as diferenças. Reserva-se assim o termo coisa para a presença da jarra experimentada e pensada dessa maneira, esse termo em suma designa a tarefa da coisa.
A ocorrência do termo remete o autor à antiga palavra thing presente no auto-alemão, no entanto ele salienta que ela não tem ligação com a vigência da coisa proposta por ele assim como as palavras alemãs thing e dinc alem da grega res que tem um significa de debate público questão do povo, através do significado de res adversae (infortúnio) e res secundae(sorte) que são derivadas de res no entanto não guardam nenhuma semelhança com sua origem nos dicionários atuais Heidegger reafirma que seu pensamento não é de maneira nenhuma etimológico.
Mas o que interessa ao autor nessa discussão etimológica é que res de alguma maneira evoca o que interessa ou diz respeito ao homem no entanto os romanos ao se apossarem da cultura grega não entenderam a profundidade dessa questão e transformaram res em ens (sendo), o sendo, enquanto o que é pro-duzido e representado, já na idade média o ens se torna tudo que está sendo mesmo que esteja apenas no mundo das idéias. Dinc no alemão teve o mesmo caminho sendo utilizada para qualquer coisa que existente, pelo Mestre Eckhart.
“Já na linguagem da metafisica ocidental coisa diz o que, de alguma maneira é algo” assim o significa do coisa passa a se entremear com o de sendo, assim Kant fala de coisa de modo semelhante ao mestre Eckhart, pois também entende coisa como algo que esta sendo, mas para Kant , o que está sendo é um objeto da representação humana, a coisa em si para o filosofo alemão designa um objeto que não é objeto, por dever e ser, sem nenhuma oposição a representação humana, que lhe vem ao e de encontro. Assim pode se ver que o significado do termo “coisa” é no minimo amplo de mais para não se dizer desgastado.
Mas, voltando ao exemplo, o que seria a jarra? A jarra é uma coisa, mas não no sentidpdos romanos, nem no da Idade Média, e muito menos cabível na definição kantiana. A jarra é uma coisa, não, como objeto, e sim enquanto coisifica, no sentido de reunir e recolher numa unidade, as diferenças. “É a partir desta coisificação da coisa que se apropria e se determina, então, a vigência do vigente deste tipo, a jarra.”
Hoje todo presente está igualmente próximo e igualmente distante devido ao reinado da dissolução da distância. Assim volta-se a uma pergunta não respondida no começo do texto: O que é proximidade? Quando se procurava a vigência da proximidade só se achou a vigência da jarra, essa presença é a conjugação do diferente que reúne em si a terra o céu os mortais e os imortais, cada um a sua distância própria e uma proximidade reciproca de sua união. Assim próximo é a própria essência da vigência. “A proximidade aproxima o distante, sem violar-lhe e sim preservando-lhe a distância” A coisa não está na proximidade, como se esta fosse um continente. Proximidade só se dá e acontece na aproximação cumprida pela coisificação da coisa.
Coisifica é unir os quatro elementos da quadratura, em sua simplicidade, que unifica por si mesma a terra, o céu, os imortais, e os mortais. Mortais são os homem, que morrem e morrer nesse sentido é saber morrer estar pronto para a morte e conviver com ela ao contrario dos animais que simplesmente em algum momento tem o fim de sua existência.
Unindo-se por se mesmos cada um dos quatro reflete e espelha de volta a vigência essencial dos outros, cada um reflete e espelha suas propriedades. Esse refletir e espelhar lhes apropria de sua própria presença. O refletir de apropriação libera para sua propriedade cada um dos quatro na simplicidade de sua reciproca referência. Nenhum dos quatro insiste numa individualidade separada, ao contrario, eles se deixam levar,dentro de sua apropriação, para que lhe é próprio.
Da-se o nome de mundo a esse jogo de espelhos e reflexos , ele se apropria da simplicidade dos elementos da quadratura para vigorar e por tanto mundanizar. Não é possível explicar a vigência desse mundo já que o pensamento do homem está a baixo da vigência dessa unidade simples e singular.
A união da quadratura é o quarteto, no entanto ele não se dá nem acontece pelos quatro estarem apenas juntos uns aos outros. O quarteto vive na apropriação do jogo de espelhos que se confundem e confiam uns aos outros a função de se reiterar ou sucintamente o quarteto se dá na mundanização do mundo. Dessa maneire o jogo não é uma dança de roda mas uma complexa interação entre os quatro formando um nó que hora se afrouxa revelando a vigência do mundo e deles mesmos.
Nesse aspecto “a coisificação da coisa se dá na apropriação das propriedades, pelo jogo de espelhos e reflexos do nó que se concentra no ponto” da interação do quarteto. A coisa leva a quadratura a perdurar na, medida que coisifica o mundo ou seja concentra numa simplicidade dinâmica as diferenças.
Pensar a coisa, como coisa, significa deixar a coisa vigorar e acontecer em sua coisificação, e ao fazer isso “poupamo-lhe a vigência de coisa, protegendo-a no âmbito em que ela vige e vigora” como coisa ou seja no sentido de reunir e recolher diferenças numa unidade, assim coisificar é aproximar o mundo, sendo a proximidade a vigência do próximo e por consequência do jogo de espelhos do mundo
“A ausência da proximidade em toda supressão do afastamento conduz ao império da falta de distância.” Esse império da distância nos obriga a fazer uma pergunta: Quando, porém, e como as coisas são como coisas?
A coisa existe não pela ferramenta do artífice nem pelo pensamento representativo e sim pelo pensamento meditativo. O pensamento meditativo não consiste só na adoção dele já que essa adoção já é estabelecida pelo pensamento representativo, ele consiste em em uma correspondência que, interpelada pelo ser mundo dentro do mundo, responde-lhe em seu próprio âmbito.
As coisas nunca chegam ,como coisas, apenas por nos desviarmos ou por recordamos antigos objetos de outrora.
A coisificação se torna flexível e a coisa se faz cada vez maleável, inaparentemente dócil à sua vigência. Poucas coisas existem em relação a infinidade de de objetos criados pelo homem.

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